(Re)costurar o presente: por que o cânhamo é uma possível alternativa para a moda zero desperdício.
*por Marina FerroEmbora reduzir, reutilizar e reciclar não sejam conceitos novos, o mundo perdeu o rumo após a Revolução Industrial. O consumo desenfreado e o desperdício se tornaram problemas crescentes, mas, felizmente, o movimento desperdício zero vem ganhando força nos últimos anos, com mais pessoas optando por viver uma vida sustentável ao adotar uma economia mais circular.
A utilização do cânhamo é uma contribuição valiosa, ao oferecer soluções economicamente viáveis para ajudar a enfrentar alguns dos principais desafios que nossa sociedade enfrenta atualmente, incluindo poluição, resíduos plásticos e emissões de gases de efeito estufa.
A verdade sobre a moda da compostagem
Todas as roupas compostáveis são biodegradáveis, mas nem todas as roupas biodegradáveis são compostáveis. A distinção entre os dois termos pode criar aterros de diferença ao se tratar da pegada ecológica de um produto.
A moda biodegradável se decompõe em um processo que às vezes pode levar centenas de anos e nem sempre os materiais biodegradáveis são naturais, mantendo, assim, suas propriedades espalhadas pelo meio ambiente. Ou seja, plásticos se transformam em milhares de microplásticos espalhados pela terra, água e ar, enquanto roupas e acessórios compostáveis se tornam matéria orgânica no solo em poucos meses.
A maioria das marcas que alegam vender produtos orgânicos e biodegradáveis não incluem informações claras em suas etiquetas como o grau de degradação – que é influenciado pelos corantes químicos e materiais sintéticos, incluindo os usados em etiquetas, zíperes, botões e linhas de costura. Apesar das variadas iniciativas sustentáveis presentes na indústria, poucos nomes usam materiais naturais em todos os componentes de suas roupas.
O cânhamo é um tecido fértil e desperdício zero
O cânhamo faz parte de uma revolução. O tecido feito a partir dele pode ser considerado um dos tecidos mais ecológicos disponíveis, já que é biodegradável e compostável.
Além disso é desperdício zero – cada parte da planta pode ser usada, incluindo as sementes que são consideradas um superalimento, bem como um derivado do óleo de cânhamo que pode ser usado como biodiesel. O cânhamo também pode reter significativamente mais carbono do que florestas e convertê-lo em biomassa.
A planta não apenas pode ser usada para criar tecidos, mas também pode criar óleos, materiais de construção, alimentos, papel, remédios, cosméticos e bioplásticos, alternativas a muitos plásticos utilizados pela indústria, inclusive a da moda.
Apesar dos passos lentos, a moda também deu alguns passos cruciais, destacando a importância da moda desperdício zero e seu impacto na humanidade. Mas, será que podemos dizer que o cânhamo é o futuro do setor?
Podemos não ver o cânhamo ainda com tanta frequência no mercado nacional, mas há muitas novidades surgindo no Brasil para novos negócios. Estamos vivendo um momento de cocriação de uma nova tendência de consumo.
Apesar de sua história injustamente ilícita nas últimas décadas, o cânhamo industrial, uma espécie da Cannabis Sativa que contém menos de 0,3% de TCH há alguns anos, já chegou ao legislativo no Brasil. Ativistas, pesquisadores, marcas e consumidores lutam pela regulação do cânhamo industrial no país e, aos poucos, os mitos em torno da planta são desfeitos na mesma proporção em que seus benefícios são comprovados.
Já avançamos com a utilização do cânhamo para fins medicinais, como o PL 399/15, aprovado em junho de 2021. E, com o cenário legal mudando em diferentes países, o cânhamo está passando por uma evolução socioeconômica por aqui também.
Quanto mais investirmos no cânhamo, como produtores e consumidores, mais barato e mais difundido ele se tornará e mais benefícios socioambientais poderão ser vistos. Afinal, #CânhamoéRevolução!