Problematizando o Dia do Consumidor por Fashion Revolution Brasil
O Dia do Consumidor ou Dia do Cliente foi criado em 2003 para valorizar e incentivar o consumo em um mês tradicionalmente de baixas vendas ao varejo. Para celebrar a data, diversas lojas e empresas realizam promoções com descontos exclusivos à efeméride.
No Brasil de 2021, com inflação alta e com um salário mínimo que já perdeu R$ 62 em poder de compra, listamos algumas reflexões sobre “O que você deveria pensar sobre o Dia do consumidor”.
Parte 1: Quem pode comprar?
Vamos à fatos que não são novos:
• Brasil é o país que por mais tempo manteve o sistema da escravidão;
• E depois de quase 400 anos nenhuma medida integrativa para sociedade foi oferecida;
• Pessoas negras foram direcionadas às favelas sem nada (sem nada mesmo).
Uma sociedade inteira construída em cima de pessoas sem nenhum privilégio ou acesso à itens básicos, ainda não tem o poder de superar as questões de consumo ligadas à periferia, já que a realidade ali vivida expressa os valores da sustentabilidade e novas economias desde o momento em que se precisa sobreviver às margens da sociedade.
A moda sendo a expressão de quem você é, como vive e suas lutas, dentro da periferia representa mais do que lançar tendência, mas sim viver os sonhos, a cultura e a revolução que mora em ter o poder aquisitivo para viver aquilo que por uma vida foi negado.
Mas essa indústria que amamos e lutamos diariamente para que mude, por muitas ainda não entende a importância da representatividade. Uma pesquisa do Data Favela realizada em São Paulo, mostrou que marcas de luxo têm vergonha de seus clientes com menor poder aquisitivo.
“Os moradores das favelas brasileiras reúnem um poder de consumo de R$ 119,8 bilhões por ano, o que supera a massa de rendimento de 20 das 27 unidades da federação do país. É superior, inclusive, ao de países inteiros, como Paraguai, Uruguai e Bolívia. São 13,6 milhões de pessoas em comunidades, com renda domiciliar per capita de R$ 734,10.” (Valor Econômico).
Quando se entender a potência das favelas na criação e na hora de ditar as tendências que são replicadas por muitas pessoas fora do contexto, se poderá criar uma verdadeira revolução da moda que vem de um movimento em nosso sistema, com mensagens que abrangem a realidade da maioria da população.
Parte 2: quando o assunto for sustentabilidade, dê os créditos
Pessoas negras, indígenas e ribeirinhas, pessoas diversas e famílias que em suas raízes sempre lidaram com a mistura de moda, ancestralidade, beleza e empreendedorismo no seu dia a dia para garantia de sobrevivência.
Na busca por conexões reais com a maior parte da população brasileira, a parcela que não é de pessoas brancas e que não tem o maior poder aquisitivo, a valorização das raízes culturais, e do fazer manual é uma forma de explorar o tema central do que os moldou.
A busca por identidade, raízes e ancestralidade é um agente de transformação que não leva a acreditar nas armadilhas do capitalismo, mas sim leva à necessidade de recriar padrões e saberes que deram bases a sociedades mais justas e igualitárias.
Trabalhar com moda, entre muitos atos revolucionários, pode ser a sua forma de costurar uma nova história de diversidade para a indústria.
A moda é expressão e cultura, é cultivo do que veio antes e aprendizado. Ser um trabalhador ou consumidor de moda é uma responsabilidade de não apenas buscar alternativas mais “verdes”, mas sim buscar modelos econômicos mais saudáveis para as pessoas e para o planeta.
Parte 3: Você é um consumidor ativista?
Precisamos de menos consumidores éticos e de mais consumidores ativistas. Neste Dia do Consumidor, convidamos você à reflexão do porque precisamos ser mais ativos se queremos uma indústria da moda limpa, justa e ética.
Nessa dinâmica de consumo, muitas vezes podemos cair no mito que só comprar uma peça “sustentável” é o suficiente para mudar todo um sistema. E mais: podemos continuar reproduzindo as mesmas lógicas do consumismo. Se colocamos 10 pares de sapatos e 20 blusas “sustentáveis” em nosso carrinho, estamos mesmo comprando com consciência?
É claro que tomar consciência sobre os processos da indústria da moda traz muitos questionamentos sobre a forma como consumimos, mas enxergar apenas o ato de comprar como o grande causador e culpar quem compra pelas consequências não ajuda a enxergar o todo desta estrutura desde a produção até a venda.
Ser um “Consumidor Ativista” vai para além de olhar apenas para o seu carrinho na busca de criar novas regras, um novo regulamento, uma proibição, um incentivo ou um novo programa social, está ligado a saber que para um impacto duradouro devemos olhar para leis que regem, empresas que coordenam e o governo que impõe formas de produção sem nenhuma responsabilidade social.
Ser um ativista do consumo não é aceitar nosso destino, é pensar muito maior. E agora, você gostaria de fazer esse teste e ser um “Consumidor Ativista”?
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