COMO CONSUMIR SUSTENTÁVEL EM PORTUGAL?
CHALLENGE FOR 2018 :
REDUCE!
There are some R’s to apply and it’s not just 3.
EVERY TIME MORE CLOTHES
Since the 2000s we have consumed more than twice as much clothing that is maintained for half the time. On average, 40% of our clothes are rarely or never used and in the UK they are preserved on average for only 3.3 years.
Why do we develop this disposable attitude toward the clothes we have always preserved and cherished?
When did we begin to depend so much on this polluting and exploitative industry?
Whenever Fashion Revolution Portugal organizes a clothing exchange market – in order to boost the circularity of goods – we close the event with triple the volume of pieces with which we started. This means that we all wish to have fewer pieces of clothing, since we can choose to change the same number of items, but many choose to bring less.
Excess consumption of clothing and accessories is an international phenomenon and is one of the biggest problems of global sustainability.
The fashion goods trade model that most of us routinely use – FAST FASHION – is based on reducing the price of clothes to a level that makes impulse buying a bargain not to be missed. There are brands whose prices do not allow online sales, since shipping costs exceed the value of the clothing itself.
É importante lembrar que o marketing de Moda é um investimento imprescindível das marcas e que, regra geral, ajuda a criar no consumidor uma necessidade fictícia. Para tal, existem diferentes truques que incluem a produção de escassez artificial através de promoções especiais, edições limitadas, lojas pop-up temporárias ou eventos de compras. Os descontos e épocas/dias especiais de saldos são igualmente o grande motor deste sistema e cada vez mais frequentes, de forma a impulsionar ainda mais o consumo impulsivo – ex: Black Friday ou Singles Day na Ásia.
KEEP CALM! É simples, basta pensar antes de comprar.
COMPRAR PARA SER FELIZ
Um recente estudo da Greenpeace “After the binge the hangover” aponta que comprar roupas é inerente à nossa actual cultura de consumo diária. Mas hoje em dia, o vestuário já praticamente não constitui uma necessidade básica, uma vez que todos, de uma maneira ou de outra praticamos um consumo excessivo de roupas. O consumo actual de bens está inevitávelmente associado à obtenção de reconhecimento e é cada vez mais alimentado pelas redes sociais.
VIRÚS GLOBAL
Quantas vezes já compraste algo que não precisavas?
Comprar causa imediatamente uma sensação de satisfação e confiança e muitos consumidores fazem-no para aliviar stress ou como passatempo. No entanto, mais de metade dos consumidores reconhecem que essa sensação de preenchimento desaparece numa questão de dias, criando uma nova necessidade de consumo, num ciclo semelhante a um vício.
CONSUMIDORES COMO PARTE DO PROBLEMA
Metade dos consumidores Europeus compra mais roupa do que aquela que necessita e usa e na Ásia, 40% qualificam-se como consumidores compulsivos, comprando semanalmente – de notar que o mercado Asiático está em franco crescimento.
Mas nem sempre foi assim e os exemplos são próximos.
Não há tanto tempo, as roupas atravessavam gerações e as melhores eram exibidas ao Domingo!
Ainda assim, esse tempo já é longínquo. Mas há muito para dizer, fazer e aprender quanto ao volume do nosso consumo e principalmente quanto ao lixo que produzimos de modo a podermos reconhecer o que nós, como sociedade, sempre soubemos: #lovedclotheslast .
CONSUMIDORES COMO A SOLUÇÃO
Porque importa a transparência?
M DE MUDAR
Modelo – A indústria da Moda é uma das mais globais. Um único produto pode viajar por múltiplos continentes antes até de chegar às lojas. É necessário repensar a logística global desta indústria e o seu modelo de negócios.
Materiais – A Moda tem um impacto ambiental e social demasiado negativo. A produção de roupas, o modo como a mantemos e o seu descarte geram um complexo problema de exploração excessiva de recursos de terreno, àgua e energia, e de contaminação por químicos e principalmente de produção de lixo.
Mindset – A Moda não é uma força do bem, mas se queremos criar mudança e construir uma indústria positiva, precisamos de mudar o modo como pensamos nela. Precisamos pensar no que usamos e porque o usamos. Como consumidores, precisamos olhar para as nossas roupas como uma real extensão da nossa personalidade – como um investimento pessoal. Devemos aprender a reconhecer a ligação com as nossas roupas e aprender a mantê-las.
DESPERDÍCIO PRÉ-CONSUMO
Restos de fibras provenientes da fase inicial de tratamento são tão poluentes que são considerados lixo tóxico – e só na China e na India são produzidas anualmente cerca de 440 toneladas.
Boa parte dos rolos de tecido que não são escoados em fábrica podem ser destruídos, enviados para lixeiras ou incinerados – há modos de contrariar este desperdício, uma vez que existem muitos retalhistas de stocks mortos, como a Feira dos Tecidos, ou as próprias fábricas que permitem ao consumidor, designer e maker ter acesso a restos e à pequena quantidade de que necessita.
O desperdício nesta indústria pode e deve ser redesenhado e minimizado – tudo o que se pensa a partir de agora deve contabilizar o fim de vida da peça e a possibilidade de ser reutilizado, adaptado a novos usos ou decomposto.
DESPERDÍCIO NO CONSUMO
Embora pouco falado, o desperdício que produzimos só durante a nossa compra pode passar por packaging desnecessário e merchandising. Sabiam que há marcas que fornecem um saco por item de modo a criar a ilusão de grandes compras e assim fomentar o desejo noutros consumidores que os vejam? As compras online, principalmente múltiplas e de entrega em casa, vêm geralmente individualizadas e ao impacto do transporte soma-se todo o involúcro de protecção.
A este desperdício está ligado também o impacto da manutenção das nossas roupas, (o maior impacto ao nível do comsumo de àgua está nas lavagens da nossa roupa!) tendo actualmente como problema central, a contaminação das àguas correntes com micro particulas de plástico, provenientes das nossas peças de fibras sintéticas. Estas micro particulas são muito difíceis de filtrar e estudos revelam que voltam para nós na àgua canalizada que bebemos ou absorvido pelos peixes com que nos alimentamos.
DESPERDÍCIO PÓS-CONSUMO
Praticamente ninguém sabe o que fazer com a roupa que já não quer – e que é sempre muita!
Quase no pico da crise de refugiados no verão de 2015, e em Berlim, eram necessários mais voluntários só para organizar as roupas doadas do que para prestar apoio directo a quem acabava de chegar.
Esta é uma situação comum até em instituições de apoio social Portuguesas, que acomulam roupa que, apesar de em bom estado, e por várias razões, nem sempre encontra o seu novo dono.
Alguns países como o Quénia, já proibiram a entrada de mais roupa em 2ª mão, uma vez que o mercado se encontra saturado e tende a dificultar o crescimento da economia local e dos alfaiates tradicionais e comuns no país.
USADO VS NOVO
Lembrar que todas as compras de roupa nova e barata criam um ciclo de descarte que produz:
+ emissões na produção e transporte;
+ consumo de novos recursos;
+ desperdício: por razoes de pouca durabilidade e não desejo;
– geralmente menos comércio local ou independente.
mas também:
+ oportunidades de emprego: geralmente precárias, sendo também um argumento isolado e recorrente na justificação da manutenção deste modelo de produção – Fast Fashion.
Compras em 2ª mao ou local:
– produção;
– menos novos recursos;
– transporte;
– aterro ou incineração;
+ economia local;
+ originalidade!
SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA?
Na verdade, não há uma grande solução: há várias coisas que podemos implementar individualmente para minimizar o problema. E não. Não é só a reciclagem.
Como devemos repensar os nossos hábitos mas também as nossas políticas, podemos começar por pressionar paralelamente as marcas e os governos e legisladores. Junta-te à campanha Internacional da Greenpeace – Slowing down Fast Fashion ou sabe mais aqui.
A Economia Circular propõe uma solução complexa ao problema, que nem sempre é de fácil implementação uma vez que requere uma mudança absoluta do sistema – obriga ao fim do modelo linear (indústrial) make – take – dispose (produzir, comprar, deitar fora e recomeça).
Para a transição é necessário abandonar totalmente a fantasia da indústria de que a circularidade pode corrigir um sistema de uso intensivo de materiais de baixa qualidade, vendendo a promessa de reciclar 100% dos resíduos, o que é improvável de se tornar realidade. Na perspectiva do Cradle to Cradle, o menos mau não é bom e é preciso repensar os materiais de raiz pois uma prematura “economia circular” onde a reciclagem acontece antes que os processos desintoxicantes possam ocorrer, só agrava o problema ambiental.
Quem se lembra da lição dos R’s?
São vários os colectivos que trabalham na implementação desta visão mais alargada, como o Biovilla , a comunidade Lixo Zero Portugal – activa essencialmente num grupo no facebook – e A MONTRA/THE WINDOW.
Hoje já são mais que 3 erres e o da reciclagem é o último Recurso.
- Rethink – Repensar – um que consideramos primordial e que vem reforçado no documentário Wasted Waste sobre desperdício e freeganismo em Portugal;
- Refuse – Recusar – aquilo que não necessitamos – ao nível do packaging principalmente;
- Reduce – Reduzir – ao que necessitamos. Sempre repensando as nossas escolhas;
- Reuse – Reutilizar – aquilo que consumimos. Múltiplos usos ou reaproveitando e transformando. Em moda, o upcycling é o upgrade de uma ou várias peças de roupa num novo item, portanto melhorado, como explica e demonstra a Zélia Évora no livro Re-uze;
- Recycle – Reciclar – aquilo que não conseguimos recusar, reduzir ou reutilizar. Na indústria da moda, a opção da reciclagem ainda está inacessível, gerando o actual problema de acumulação de resíduos. Repensar e reduzir em primeiro lugar!
- Rot – Refere-se à compostagem – é importante ilustrar que, apesar de pouco explorada ao nível das fibras têxteis, esta perspectiva da biodegrabilidade garante que aquilo que descartamos se decomponha rapidamente e alimente o solo e não que o polua como actualmente.
- Respect – respeitar é para nós um R muito importante pois queremos transformar esta Indústria em algo transparente que beneficia e valoriza todos os que a compõem, pois queremos saber #whomademyclothes .
COMO CONSUMIR MAIS SUSTENTÁVEL?
Mas então como funciona na prática?
RECICLAGEM EXPLICADA
Finalmente!
Em Portugal não há um sistema de recolha semelhante aos dos outros resíduos que conhecemos. Existem contentores de empresas de recolha em parceria com autarquias ou já dentro de várias lojas. É importante desmistificar o que afinal acontece a essa roupa.
Vamos começar já por falar nesse negócio imperdível de entregar roupa usada em lojas e receber um vale para gastar em roupa nova. De facto, estamos a receber algo por esse recurso que estamos a entregar mas é importante lembrar que isso é também um incentivo ao consumo e nos víncula àquela marca. Muitas vezes estamos a entregar roupa usada em óptimo estado que dá apenas um desconto em roupa nova que provavelmente vai durar pouco.
Quanto a colocar o nosso excedente nos contentores de recolha da rua, estes estão estabelecidos como doações a projectos de apoio social locais. Mas pensemos:
Estamos mesmo a ser bons cidadãos quando passamos aquilo que já não queremos para outros?
Por vezes é uma doação demasiado fácil e geralmente pouco reflectida. E mais uma vez invisível aos olhos do consumidor.
Sabiam que esta roupa na verdade percorre um grande caminho até encontrar um novo uso – e que podem ser vários esses usos?
Segundo a H SARAH Trading – Gestão e Reciclagem de Têxteis, “dada a complexa composição físico-química dos tecidos, estes materiais são de difícil degradação permanecendo por tempo indefinido no ecossistema. Contudo, quando devidamente encaminhados, 95% destes materiais são passíveis de reutilização/reciclagem.”
Triagem, Downcycling e Upcycling?
O que acontece então quando “reciclamos” roupa?
– 20-40% é revendido de volta aos consumidores para apoiar projectos de caridade ou doado;
Consoante os níveis de qualidade, os materiais são encaminhados para diferentes destinos. As peças que se encontrem em estado novo ou semi-novo podem ser encaminhadas directamente para projectos de apoio social – aqui sim estamos a doar a roupa – ou revendidos, grande parte das vezes para angariar dinheiro para esses projectos uma vez que a necessidade dos mesmos não é a roupa.
– 20-30% é revendido no sul global (principalmente Africa);
Aquelas que não correspondem aos níveis de qualidade definidos no nosso país ou na Europa são valorizadas através da exportação – criando um grande e novo problema essencialmente nos mercados Africanos. Sabe mais aqui.
– 25-40% é downcycled;
Isto significa que são destruídos para formar novo material, de menor qualidade. Os artigos inaptos para reutilização seguem para reciclagem, dando origem a novos produtos – geralmente para outras indústrias (ex: isolamentos).
– Upcycling – transformação de peças de modo a acrescentar valor e qualidade técnica e estética – praticamente não acontece dentro deste universo da recolha de resíduos e menos de 1% é realmente reciclado para o fabrico de nova roupa.
Como consumidores críticos que aspiramos ser, é importante também encontrar a lógica de tal acção, mas infelizmente é esta a ideia formada por grande parte dos consumidores.
Qual poderia ser o propósito de desfazer algo para criar exatamente o mesmo objecto, recorrendo no mínimo a novos recursos energéticos?
Sabiam que a roupa feita a partir de materiais reciclados não é feita a partir de roupa reciclada? São feitos a partir de materiais resgatados de outras indústrias, geralmente menos complexos e abundantes (ex: Jeans ou sneakers reciclados feitos de plástico resgatado dos mares ou garrafas PET)
Por outras palavras, é provável que uma t-shirt não vai dar origem a outra t-shirt.
Porquê?
A actual tecnologia da reciclagem é insuficiente.
Acabamentos e mistura de fibras dificultam a reciclagem – estas são características comuns a grande parte das roupas.
A destruição de tecidos de fibras naturais enfraquece a fibra de modo a ja não ser um material ideal para o fabrico de um novo produto – por vezes apenas 20% da fibra reciclada constitui um novo produto.
E nem todas as fibras sintéticas são possíveis de reciclar.
Segundo Alden Wicker só um Polyester puro e raro de se encontrar pode ser reciclado – derretido e convertido em novo Polyester. Há mesmo muito poucas empresas a fazer este processo e existe uma grande dificuldade em triar esse material.
As fibras sintéticas, que são essencialmente filamentos plásticos, que actualmente não são possíveis de reciclar, demoram 500 a 1000 anos a decompor, sendo até lá absorvidas por exemplo pela vida marítima e por nós.
Inovação permite alguma reciclagem: Separação.
Existem tecnologias que já conseguem separar as fibras e reciclá-las quase na sua performance máxima, mas é importante saber que estas opções ainda são economicamente pouco viáveis (ex: Blend Re:wind, Worn Again ou Procotex).
Segundo a Economia Circular, os materiais devem permanecer com o seu potencial máximo e o downcycling é portanto o último recurso.
As marcas não deveriam exportar a responsabilidade de recolher os seus próprios artigos, e este sistema de recolha não é contabilizado na fase de design, anulando o esforço da implementação de circularidade.
GREENWASHING E O MARKETING DO BEM
É preciso cuidado: quando nos deparamos com um cenário idílico, se na mesma ele impulsionar uma compra que é desnecessária, devemos ficar alerta.
O Greenwashing constitui um grave problema e é uma apropriação da sustentabilidade como tendência.
A mudança de paradigma é imperativa de acontecer e não pode ser momentanêa – e quanto menos enaltecida (mas visível) melhor.
O grupo H&M é uma das marcas que recebe mais pressão junto dos consumidores pois é aquela que mais investe em tornar-se sustentável. Com um modelo de negócios de Fast Fashion, é atacada, por exemplo, por demorar potencialmente 12 anos a reciclar toda a roupa proveniente de 1 tonelada recolhida só durante a campanha de reciclagem World Recycling Week, coincidente com a Fashion Revolution Week, no passado ano de 2017.
A I:CO é uma empresa pioneira de triagem que trabalha com a H&M e outras grandes marcas na recolha destes resíduos, encaminhado-os para novos destinos consoante o seu estado e qualidades, que já sabemos, não são bem a reciclagem que pensamos.
A Global Fashion Exchange, que esteve em Lisboa em 2017, durante a Modalisboa, é um importante passo para trazer a circularidade para o palco da moda e sensibilizar a uma maior escala os consumidores. No entanto, recolheu centenas de quilos em excedentes da iniciativa de trocas, em bom estado, e por vezes bens de um segmento de luxo, que viajaram até à I:CO (possivelmente na Alemanha) para serem redireccionados, perdendo-se assim a oportunidade de continuar um trabalho profundo com os consumidores e as autoridades e instituições Portuguesas.
A equipa Fashion Revolution Portugal acredita que é necessário expandir a visão e contabilizar todo o cenário e, acima de tudo, cooperar de modo a compreendermos como actuar localmente, e contribuir para a resolução do problema globalmente.