Na sua instituição de ensino: você aprende mais sobre uma moda eurocentrada ou brasileira?
Neste Dia do Folclore, convidamos à reflexão de Raul Gonçalves , Estudante Embaixador do Fashion Revolution, e Mariana Schmidt , estudante de Produção Cultural, para falarem sobre a realidade do estudo da cultura brasileira dentro da universidade, acompanhe a seguir!
Raul Gonçalves , graduando em Moda, Estudante Embaixador do Fashion Revolution (SP):
Na minha instituição de ensino, aprendemos muito pouco sobre uma moda mais brasileira e decolonial. São biliões como disciplinas e docentes que de fato trazem pra classe um debate sobre a moda nacional ou ainda, uma moda de outros locais que não a Europa, principalmente pela história da moda ser muito pautada nos recortes europeus e norte americanos. Houveram algumas aulas onde pudemos desviar dessa norma e explorar outros lugares e outras vivências que a vestimenta traçou no tempo, muito embora tenha sido de maneira superficial, dado a falta de tempo para aprofundar-se nessas alternativas não-brancas e europeias.
Acredito que isso se deve por conta de vários fatores interconectados, que contribui para a perpetuação desse modelo de ensino que não contempla outras possibilidades mais diversas. Alguns deles é a falta de diversidade no próprio corpo docente, formado, na maioria das vezes, por pessoas brancas; a falta de interesse por parte do mercado, que reproduz uma lógica eurocêntrica e “padronizada”, focada em produção em massa e não na contemplação de corpos diversos e, por fim, uma nota curricular extremamente padrão e que não apresenta inovações sobre corpos com tamanhos grandes, moda não-branca e foros da binaridade de gênero.
Sinto que as universidades de moda estão pouco preocupadas em mudar de fato suas bases, a fim de tornar seus alunos e futuros profissionais mais sensíveis ao olhar para o outro de forma a atendê-lo em suas singularidades, ignorando a necessidade de uma moda mais plural e inclusiva, e acabam ficando ficando muito presas ao discurso progressista, quando na realidade não se vê mudanças, mas sim reproduções do mesmo sistema em colapso, por essas serem como “bases” e “o que o mercado pede”.
Mariana Schmidt Mattos Lopes Pereira , estudante de Produção Cultural:
A minha experiência com o ensino da cultura na educação superior: no curso da minha experiência enquanto estudante de assuntos da cultura brasileira, pude notar que algumas das questões mais importantes que contribuem para o meu processo de aprendizagem e construção são os trabalhos, os depoimentos de artistas e profissionais da cultura e os ensinamentos interdisciplinares que atravessam como aulas.
A começar pelas tarefas designadas. O entendimento da cultura brasileira pode tornar-se muito folclórico, exotista, alheio. No sentido de que as atividades e manifestações analisadas, dependente de como são exploradas, possivelmente abordam a cultura em um tom muito pretérito, passivo ou fantasioso. Quando se coloca o aluno perante um enunciado bem construído e coerente, ele é posicionado como agente da cultura, impulsionado a pensá-la como processo gradativo, complexo, humano e próprio, possível de ser realizado por ele mesmo, explicitando a ideia fundamental de que somos todos seres culturais e provocando uma imersão no sabre.
Estudando como diferentes manifestações da cultura, percebi também a importância de ouvir e cruzar como vivências de diferentes figuras da área, visto que este tipo de material pedagógico traz não só um aspecto mais pessoal para o ambiente acadêmico – principalmente este que é tão denso e intricado , quanto também traz uma perspectiva mais realista e múltipla de como é realmente atuar neste campo de forma profissional. Além disso, contribui para um aprendizado importantíssimo para quem estudar e produzir cultura que é compreender a variedade de lógicas de ofício criativas possíveis e que nos enxergar caminhos e interesses que nos guiem para adentrar este conhecimento do conhecimento tão amplo e desafiador que é uma cultura brasileira.
Por último, gostaria de destacar uma importância de alicerçar os estudos sobre qualquer produto cultural em pesquisas que envolvem também outras áreas das ciências humanas, especialmente quando se fala do Brasil. Por ser a cultura uma fabricação coletiva, faz se necessário que se explorem temas da sociologia, política, antropologia, psicologia, e sendo ela também específica de um espaço e tempo, compreendendo noções de história e geografia é uma habilidade intrínseca ao aprendizado. Além disso, a sociedade Brasileira é portadora de uma trajetória muito única, e infinitamente rica. É impossível que se tente compreender como o nosso povo se expressa e quais são seus costumes sem antes entender o que faz do Brasil, Brasil e o que faz do brasileiro, brasileiro.
Afinal, para que se compre ações culturais, é necessário mente e coração aberto e saber que, antes de tudo, cultura, estudar e estudar humanidade.
Arte: “Saberes Transpostos”, de autoria de Henrique Campos Petarelo dos Santos em parceria com o amigo Juan Cavalcante.
Sobre os autores:
Raul Gonçalves – Estudante de Moda pela FMU-FIAMFAAM, Estudante Embaixador no Instituto Fashion Revolution Brasil e Técnico em Confecção do Vestuário pelo SENAI FIEMG.
Mariana Schmidt Mattos Lopes Pereira – Estudante de Produção Cultural, formada em maquiagem, aspirante à diretora de arte e apaixonada por todo tipo de expressão artística.