Moda Plural: o futuro é agora
por RELab Criativo*
Você já parou para pensar onde estão as pessoas com deficiência, as pessoas gordas, LGBTQIA+, idosos, indígenas, pretos e asiáticos representados na Moda? A marca que você consome atende toda a pluralidade de pessoas existentes? Pensa no design plural? Integra a pluridiversidade?
É essencial refletirmos e questionarmos que enquanto não houver reconhecimento da importância de integrar beleza e corpos plurais não estaremos falando sobre sustentabilidade. O pilar socio-cultural abrange as pessoas e toda sua pluridiversidade, complexidade, experiências e atuação, que juntamente com os pilares ambiental e econômico formam o tripé da sustentabilidade.
Há um desejo e uma tentativa de resgatar os valores e as práticas ancestrais que se perderam em meio a Industrialização e analisar as etapas que são praticadas em toda a cadeia produtiva, desde a concepção do produto ao consumo e pós-consumo, e agir com ética e transparência em prol do bem-estar humano. Tão importante quanto quem está por trás da produção da moda é para quem se faz moda. É fundamental discutir processos e condições trabalhistas dos artesãos, colaboradores, fornecedores, criativos, técnicos, e profissionais relacionados às ações e cuidados com os impactos ambientais e ciclos finais de vida do produto, além da justa remuneração para manter a saúde e equilíbrio de toda a comunidade envolvida, mas também saber e entender quem é o consumidor final. Ele não é só um número que consome moda, ele é um ser humano que quer se expressar e ter seu direito de existir, em sua forma e integridade. A Moda é um veículo que deveria preservar e habilitar tudo isto, ao invés de limitar e padronizar.
O direito de existir para a sociedade, por si só, deveria ser suficiente para uma pessoa ser parte do contexto da Moda de maneira igualitária, com possibilidades de poder se vestir com autonomia, e vivenciar experiências de consumo sem limitações e falta de acessibilidade. É sobre DESconstruir os padrões e ideais de beleza criados pela sociedade, ampliando o olhar para a pluralidade de pessoas e corpos existentes, com intuito de amplificar vozes e intensificar movimentos, ultrapassando e vencendo barreiras do preconceito e das discriminações, REssignificando as diferenças como valores importantes e individuais que nos torna seres únicos e insubstituíveis!
Moda Plural e a Semana Fashion Revolution 2021
Na Semana Fashion Revolution, nós do RELab Criativo vamos mostrar a importância de integrar movimentos e repensar o que é integração e inclusão, acessibilidade e sustentabilidade. Nosso propósito ao conectar as pessoas com as necessidades dos grupos invisibilizados é transformar o pensamento e prática do Design Universal e construir uma Moda Plural.
Convidamos todos a refletir sobre a experiência de consumo de moda e questionar as marcas #PraQuemVocêFazRoupas? A iniciativa tem o objetivo de valorizar as características e jornadas individuais das pessoas que, somadas, potencializam a pauta da pluridiversidade e geram uma força coletiva que impacta em um presente e futuro mais equitativo para todos.
Neste ano de 2021, a partir das 3 mensagens-chave do Fashion Revolution, relacionamos e integramos as pautas do RELab Criativo para demonstrar como os assuntos se complementam e ganham força quando são evidenciados juntos.
Direitos Humanos e Direitos da Natureza
Com a mensagem de que os Direitos da Natureza precisam ser reconhecidos e os Direitos Humanos garantidos para todos podemos alinhar tanto o conceito de Pluridiversidade como também o de Moda Plural. A Pluridiversidade é mais completa, olha para a pluralidade de pessoas existentes seja qual o grupo que faz parte, já que o termo diversidade só representa uma parcela das pessoas invisibilizadas. Garantir direitos abrange trazer acessibilidade sem distinção. É possível aplicar este mesmo olhar para a natureza, e permitir que ela simplesmente seja e exista em sua plenitude. O direito de existir, portanto, vale para a natureza e para os humanos, e é nosso dever retomar o equilíbrio entre todas as formas de vida com dignidade e equidade. A Moda Plural representa, como consequência do reconhecimento da Pluridiversidade, um direito de expressão. Tem a ver com assumir sua própria natureza como ser humano único, que se apropria de recursos da moda para se comunicar com o meio em que vive.
Relacionamentos individuais, coletivos e com a Natureza
Somando a esta segunda mensagem do Fashion Revolution, o questionamento que fazemos #PraQuemVocêFazRoupas? é sobre relações, objetivos e a interseccionalidade. É sobre pensar para quem fazemos moda e por que ela é feita daquela forma. Para criar Moda leva-se em consideração quem é o consumidor final, e o que vemos atualmente é que uma parcela enorme e pluridiversa da população não está sendo representada nesta articulação. Observamos então, relações de causa e efeito, desde a lógica da produção pasteurizada para corpos padronizados com imenso impacto ambiental e social, como também a qualidade questionável dos relacionamentos resultantes no processo dessa dinâmica. Assim, as pessoas não atendidas são condicionadas a pensar que não merecem o mesmo que todos, o que causa um sentimento de inadequação emocional e física, e repercute em como cuidam de seus corpos e sua saúde, individualmente, coletivamente e em relação à natureza. Neste âmbito é interessante repensar também o que se chama de Moda Afetiva, onde podemos entender a afetividade na moda além dos produtos. Um dos conceitos que estudamos para ampliar os olhares sobre essas questões e desconstruir estereótipos é o Design Universal. O objetivo é pensar e projetar estética e usabilidade com foco nas pessoas, para transformar e construir uma Moda Plural.
Revolução Sistêmica
Pela mensagem da Revolução Sistêmica, podemos tangibilizar o nosso valor de Integração. Sistema e Integração se assemelham no significado e a analogia faz com que a gente reveja nossa interação e atuação no espaço que ocupamos. Sistema tem a ver com qualquer conjunto (natural ou não) constituído de partes e elementos interdependentes, que geralmente visam um certo resultado. Integração é a ação de incorporar ou unir elementos num só grupo, e do ponto de vista social, assimilar completamente os indivíduos de origem estrangeira (ou excluída) ao seio de uma comunidade ou nação. Revolucionar, nesta perspectiva social, é mudar a mentalidade para integrar a pluridiversidade de pessoas neste sistema em que vivemos. É desconstruir o sistema como ele opera hoje para que ocorra uma transformação estrutural e possamos construir uma Moda Plural. É um exercício de cidadania, de compreensão de outros capitais além do econômico, como o capital afetivo, cultural, social e simbólico.
Convidamos a todos a perguntar às marcas #PraQuemVocêFazRoupas?
Seja parte desta Revolução e desperte a consciência plural!
**Imagem: Nicolette Meade
Descrição da imagem (ALT TEXT/texto alternativo): folhas, flores e pétalas de diversas cores, formatos e tamanhos sobre uma toalha bordada branca, representando a pluridiversidade da natureza e a moda plural.
Sobre o autor:
RELab Criativo – Centro de Pesquisa Educacional que conecta estudantes, educadores, profissionais, colaboradores e parceiros interessados em repensar o que é integração e inclusão, acessibilidade e sustentabilidade.
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