Moda Circular: transformar descartes de outra indústria é colaborar?
por: Alice Beyer Schuch e Gabriela Machado André
A transição para uma economia onde produtos e materiais fluem em ciclo fechado amplia a nossa imaginação para o reuso dos resíduos. Nesse contexto, vemos soluções criativas mas outras pouco efetivas, e que na prática “enxugam o gelo” da geração irresponsável de descartes. O e-book “Fibras e Materiais Rumo à Moda Circular” traz essa problematização, e compartilhamos um pouco aqui.
Talvez o exemplo de reuso em escala na Moda que mais ilustre a ausência do pensamento de design, ou de engenharia de final de ciclo – seja a transformação de garrafas PET em poliéster. Tema já bastante debatido, está associado à manutenção de um derivado fóssil, e à liberação de microplásticos na etapa de lavagem. E aqui levantamos a pergunta: tem a Moda que “colaborar” com a “limpeza” dos resíduos da indústria de embalagens?
A simbiose industrial e o uso em cascata de recursos, onde o resíduo de um setor ou processo vira insumo para o outro, são ideias essenciais na Economia Circular.
O e-book “Fibras e Materiais Têxteis rumo à Moda Circular” está disponível gratuitamente aqui.
Mas nesse caso, o fluxo de garrafas para tecidos, apesar de aumentar o valor equivalente do produto inicial, vira um “problema em cascata”: gera uma matéria-prima com baixa qualidade (questão dos microplásticos, pouca respirabilidade, rápida aparência de desgaste, etc.), nível “zero” de assinatura vibracional (saiba mais no e-book!), baixa reciclabilidade e que talvez termine em uma montanha de lixo.
Com uma estimativa de reciclar apenas cerca de 14% de sua produção*, a indústria de embalagens e produtos plásticos similares, tem muito espaço para investir em soluções “upstream”(olhando ciclo acima), e que ao menos, possibilitem a circulação fechada das garrafas.
Um sistema em cascata valioso para a Moda, seria, por exemplo, uma linha descendente de uso de algodão orgânico monomaterial: o fio utilizado em camisetas pode seguir no ciclo para compor peças jeans, depois tricôs estruturados, lonas pesadas, até os feltros e enchimentos gerais. Depois, o material pode ainda voltar a ser uma fibra têxtil de qualidade, após um processo químico de reciclagem!
O e-book “Fibras e Materiais Têxteis rumo à Moda Circular” está disponível gratuitamente aqui.
Já experiências intersetoriais dentro de uma lógica verdadeiramente circular, serão bem-vindas. Como a startup Malai, que desenvolve um material biodegradável alternativo ao couro, à base de celulose bacteriana fermentada com água de coco residual da indústria indiana. Ou a fibra natural Agraloop, gerada com o processamento de sobras de cultivos alimentares e medicinais, incluindo cânhamo, linho, banana e abacaxi.
Soluções inventivas e em menor escala como essas, também estimulam uma diversidade de matérias-primas, ao invés de perpetuarmos “monoculturas” de materiais. Cascas de frutas, algas, urtiga, cogumelos…o futuro circular da moda tem isso e muito mais!
Fonte: “The New Plastics Economy: Catalysing Action”, Fundação Ellen MacArthur.
Alice é mestre em Moda Sustentável, atua no mercado da moda desde 2001, com foco na circularidade desde 2015. Linkedin.
Gabriela é jornalista especializada em Comunicação Ambiental e Marketing de Moda, e pesquisadora na fellow consulting. Linkedin.
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