Me diga quem tu és quando ninguém realmente te vê

By Fashion Revolution Brazil

3 years ago

*by Rafael Silverio
 
Neo Pau Brasil, Tarsila do Amaral, 1953. Óleo sobre tela, 65x81cm
 
“[…] ninguém conhece seu lugar na sociedade, sua posição de classe ou status social, e ninguém conhece sua sorte na distribuição de talentos e habilidades naturais, sua inteligência, força e afins. Considero, inclusive, que as partes não conhecem suas concepções do que é bom ou suas propensões psicológicas. Os princípios da justiça são escolhidos por trás de um véu de ignorância.” – John Rawls

Desde 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) aproveita o dia 20 de fevereiro para assinalar o Dia Mundial da Justiça Social com o objetivo de conscientizar sobre a igualdade entre os povos, além do respeito à diversidade, o termo justiça social é uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e solidariedade coletiva, conceito que surgiu em meados do século XIX, referindo-se a situações de desigualdade social, e que define a busca do equilíbrio entre as partes desiguais, por meio da criação de proteções (ou desigualdades de signos opostos). ), a favor dos mais vulneráveis.

Em “A Theory of Justice” (1971), de um professor americano de filosofia política da Universidade de Harvard, John Rawls argumenta que uma sociedade será justa se respeitar três princípios:

  1. garantia de liberdades fundamentais para todos;

  2. igualdade equitativa de oportunidades; e

  3. manutenção das desigualdades apenas para favorecer os mais desfavorecidos.

O trabalho resulta na teoria conhecida como “justiça como equidade”, e dela Rawls deriva seus dois princípios de justiça:

Primeiro princípio: Cada pessoa deve ter o mesmo direito ao mais amplo sistema total de liberdades básicas, compatível com um sistema similar de liberdade para todos.

Segundo princípio: as desigualdades sociais e econômicas devem ser organizadas de modo que ambas sejam:

(A) para o maior benefício dos menos favorecidos, de acordo com o princípio de economias justas, e (B) vinculados a cargos e cargos abertos a todos sob condições de igualdade de oportunidades.

Fiel à tradição liberal, Rawls considera o princípio da liberdade superior ao princípio da igualdade. O princípio da igualdade de oportunidades também é superior ao princípio da diferença. Em ambos os casos, há uma ordem lexical. No entanto, ao unir essas duas concepções sob a ideia de justiça, sua teoria pode ser designada como “liberalismo igualitário”, incorporando tanto as contribuições do liberalismo clássico quanto os ideais igualitários da esquerda.

Trazendo o contexto filosófico para nossa esfera sociopolítica, a teoria parece longe de ser eficaz na aplicação de oportunidades de nivelamento. Em um Brasil ainda colonial que revela cada vez mais o abismo sócio-racial, com o crescente número de casos que deixam claro que os corpos negros estão cada vez mais vulneráveis ​​ao extermínio da violência urbana e policial e ao encarceramento em massa sistêmico.

Nas últimas semanas, os dados foram humanizados com nomes dos casos mais absurdos de racismo em suas expressões mais agressivas, traumáticas e letais; como no caso da família congolesa de Moïse Kabagambe, brutalmente assassinada após uma discussão com funcionários de um local onde trabalhava como atendente. na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

A família do congolês alega que ele foi aos quiosques cobrar uma dívida de trabalho no valor de R$ 200, ou a morte de Durval Teófilo assassinado pelo sargento da Marinha, Marinha Aurélio Alves Bezerra, que diz ter “confuso” confundido a vítima, um homem negro, com um bandido.

O caso de Yago Corrêa, 21 anos, foi acusado de envolvimento com o tráfico de drogas em Jacarezinho, comunidade da zona norte do Rio de Janeiro. Com um saco de pão na mão, ele foi detido em uma farmácia após uma briga que envolveu policiais militares e outro suspeito.

Como ainda podemos refletir sobre a liberdade como um benefício horizontal, se fica claro depois de todas as manifestações por equidade racial em 2020, que negros e não brancos neste país não compartilham algo que segundo a justiça social é direito de todos cidadão. Antes que o assunto desapareça dentro das prioridades da branquitude, vale entender que o Brasil é um país que se assume com mais de 50% de pessoas que se declaram pretas e pardas segundo dados do último Censo do IBGE.

Mesmo diante das agressões físicas expostas publicamente no maior reality show do país, não temos o mesmo tratamento que a branquitude, que assiste em silêncio e tenta deslegitimar nossa dor afirmando ser “mi-mi-mi”

A moda, como qualquer outro organismo político, drena o comportamento colonial que formou o pensamento que nos distancia da equidade, cabendo a esta se responsabilizar como Indústria não apenas para apropriar-se de comportamentos para inflamar o consumo, mas para incorporar práticas que oxigenem e trazer oportunidades para a formação e valorização das classes minoritárias, incorporando métricas e metas nos espaços de poder, governo estadual e previdência privada, novas condutas que fomentem a diversidade de planos responsivos, além de condições de trabalho e planos de carreira éticos e historicamente conceituados.

A percepção de que o debate racial e de privilégios tem que acontecer sem a presença de negros, em festas para as quais nunca fomos convidados, em espaços que nunca permitimos, porque somos tolerados, mas ainda é muito difícil fazer parte de uma estrutura inter-racial que muda , e não apenas pressão, ou que esvaziem o debate para não sofrer represália de cancelamento por parte dos juízes das redes sociais, que dividem opiniões em suas notas.

Esteja ciente de onde você está nessa engrenagem, e como suas ações influenciam contra ou a favor e impactam a favor ou contra todo esse sistema que nos impede de nos beneficiarmos do princípio básico da justiça social.

*Rafael Silvério, formado pela Faculdade Santa Marcelina em Desenho de Moda (2013) e Pós Graduado pela UNIP em Negócios Internacionais e Comércio Exterior (2016). Diretor criativo e fundador da marca Silvério, atualmente, é colunista de sustentabilidade social no Fashion Revolution desde 2020 e trabalha também como consultor de branding para marcas e negócios relacionados à criatividade. O Silvério também teve passagem pela Casa de Criadores (2019), Brasil Eco Fashion Week (2020) e agora segue integrando o primeiro line up do Projeto Sankofa, dentro do SPFW (2021 – 2022), tornando-se vetor de marca emergente no cenário nacional. É um dos Guardiões da Startup de Inovação Social VAMO – Vetor Afro Indígena na Moda (2021) se tornou co-autor e gestor de marcas, do Projeto Sankofa, ao lado de Natasha Soares.