Fashion Revolution na Cidade Tiradentes: um projeto de alta costura

By Fashion Revolution

1 year ago

 *Texto escrito por Paloma Gervasio Botelho, Gestora Geral do Projeto e Coord. do Comitê Racial e de Diversidade Fashion Revolution Brasil
 
O Fashion Revolution na Cidade Tiradentes é um projeto de alta costura – transcendendo o conceito de moda, é um espaço de pertencimento, feito por diversas mãos e capital humano de altíssima qualidade. O objetivo foi de ampliar o raio de alcance da moda, levando tal manifestação cultural para espaços que tradicionalmente não são ocupados por ela, como as periferias, alçando jovens e mulheres negras ao posto de criadoras(es), além do sucesso, superou as expectativas. Devido à potente presença, participação e dedicação de Camila, Claudete, Denilson, Dilma – Boneca, Elaine, Elizabete, Esther, Giovanna, Heloísa, Joana, Joice, Leonardo, Malu, Marina, Naiter, Nayara, Roberta, Sabrina e Thais, criativas(os) moradoras(es) da Cidade Tiradentes e regiões adjacentes (Guaianases, São Mateus, Itaquera,  Itaim Paulista, São Miguel Paulista, Ferraz de Vasconcelos e Itaquaquecetuba) selecionadas(os) para germinar esta ideia no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT), um espaço cultural conquistado por demanda popular em 2006.“Quem não valoriza o passado, não tem futuro” essa foi uma das inúmeras sabedorias compartilhadas pela Dona Marisa Moura, nossa ilustre mais velha, que compôs o nosso time de mentoras(es). Ao lado de Ana Paula, Marisa abriu o primeiro dia dos nossos cinco encontros com o tema “Práticas Comunitárias Inovadoras e Auto-organização” e nos contemplou com as suas “artes em retalho” fruto das suas pesquisas sobre a cultura negra de raiz. Essa experiência possibilitou aos participantes um resgate identitário e uma conexão direta com as suas origens. 

Números alarmantes da degradação despendida pela indústria da moda ao nosso planeta ilustraram a apresentação do encontro mediado por Suelen Ingrid, idealizadora da marca Afroish, que com a sua metodologia Art Attack, desenvolveu a oficina sobre moda e design em sustentabilidade têxtil e gestão de resíduos. Barbara Terra, cria do Grajaú e matrigestora da Rede Nóis por Nóis, um espaço de criatividade, inovação, articulação e desenvolvimento periférico, teceu sobre “Corpos e histórias diversas, auto-estima e saúde mental”. Um dos destaques da sua mentoria foi a dinâmica do espelho que ao revelar as fraquezas e ameaças, refletiu as fortalezas e oportunidades das subjetividades dos próprios participantes. Um momento de intensa emoção! 

 

Enquanto Will da Afro chegou diretamente de Perus alinhavando os encontros com os seus conhecimentos em “Desenvolvimento de projeto”, ele, que é Afroempreendedor na empresa AfroPerifa e Pesquisador do Afroempreendedorismo nas quebradas de São Paulo, nos emprestou seu olhar aguçado para a estruturação dos projetos que os grupos compostos pelas participantes criaram ao longo dos encontros, uma junção dos repertórios adquiridos com as mentorias e seus saberes autorais adquiridos ao longo da vida.

Além das mentorias presenciais, Taya Nicaccio, Isabella Luglio e Marina de Luca somaram conosco nos encontros online expondo suas especialidades em racismo ambiental, transparência na moda e ativismo na moda, respectivamente. As especialistas também auxiliaram os participantes a estruturarem seus projetos com base nos pilares da sustentabilidade, propondo uma ideia inovadora e viável de ser comercializada, assim, incentivando suas criadoras e seus criadores a levarem suas ideias adiante.

“A sofisticação da simplicidade imprime a qualidade.” Foi com este olhar que busquei liderar a inteligência desta realização sem a pretensão de conquistar elogios igual a este “… uma grande inspiração e uma pessoa maravilhosa que sempre busca nos proporcionar grandes coisas e conhecimentos…”, e ao mesmo tempo me sinto feliz e realizada por recebê-los e por merecê-los. 

Ter a honra de acompanhar nos bastidores o progresso do processo criativo de cada grupo, a felicidade da realização individual de cada participante, mentoras, mentor, parceires e da equipe é um valor inestimável. Principalmente no evento de encerramento quando fomos apresentados a materialização destes talentos como: colete que vira bolsa; abajur feito de garrafa pet; maquiagem natural; bolsas feitas de calça jeans e cartões de telefone e acessórios sustentáveis. Para mim foi um intenso processo de aprendizado profissional e de evolução da minha humanidade, que seguirá reverberando nos meus sentidos. Agradeço a toda equipe núcleo do Instituto pelo suporte, especialmente, a Fernanda Simon e a Paula Leal por confiarem a mim a Gestão Geral deste projeto e pelos incentivos ao longo do processo.

Equipe

Antes de eu integrar o Instituto Fashion Revolution Brasil, esta costura já estava sendo desenhada pelas mãos de Dandara Valadares e Elisa Tupiná, em um processo de escuta com um grupo de mulheres da comunidade, onde elas sinalizaram a demanda por apoio no desenvolvimento dos projetos e negócios da região na área de moda e costura. No processo de seleção e curadoria das participantes, retomamos o contato e algumas delas abraçaram o convite.

A dinâmica da circularidade foi o fundamento para a realização do projeto. Ana Paula Nascimento, presente no projeto semente, permaneceu conosco como Produtora Local e Mentora, nos guiando às especificidades territoriais da Cidade Tiradentes e adjacentes. Ana exerceu um papel fundamental para alavancar as relações entre objetivos e resultados; é dela a visão de visitarmos uma fábrica ou atelier de moda e tivemos a oportunidade de visitar no interior de São Paulo o centro de distribuição e uma loja de uma grande varejista brasileira, onde fomos apresentadas a logística da marca no seu ponto de venda. Multiplicando os talentos desta equipe de produção formada por três mulheres pretas, tivemos ao nosso lado a encantadora Marina Ribeiro, Assistente de Produção, que trouxe um frescor para a equipe com a sua agilidade e malemolência articulando com todas as frentes de trabalho e engajando o projeto nas redes sociais do Movimento. 

Registro neste texto a minha satisfação por estes três grandes encontros: Ana, Marina e Paloma; verdadeira sintonia. Acredito que o sucesso de um projeto é o reflexo da sua equipe e o Fashion Revolution na Cidade Tiradentes pode celebrar por ter uma equipe preta de excelência. Foram três meses de convívio. Passamos pela virada do ciclo de cada uma: peixes, áries e touro, o zodíaco fez sua cadência e para quem acredita que não existem coincidências, os astros nos presentearam por meio da nossa convivência embalada por  empatia, acolhimento, muita partilha e infinitos aprendizados.

Um projeto deste calibre precisa de um esquadrão. Não somos muitos, mas somos fortes e isso amplia a nossa presença. A equipe preta de excelência se estende a Evelyn Kosta, Videomaker, que sintetizou a energia dos encontros ao lado da sua equipe Ohana Couto e Thiago Silva; Deka Carvalho a cada click a revelação de uma essência e um belo sorriso da Fotógrafa para a imagem captada e o Buffet Doce Encanto de Erica Câmara e Mario César Guirado cativaram nossos paladares com afetividade. Fazer parceria com profissionais pretas e pretos da quebrada foi a nossa maneira de fomentar a economia local, valorizando e respeitando o território onde pisamos. 

O encontro de gerações somado ao intercâmbio territorial, a representatividade étnico-racial e de gênero são um dos pilares desta construção. O sentimento de pertencimento contagiou os Participantes, Mentoras(es) e Equipe, nos entrelaçando em uma grande roda que ao término de cada encontro todas, todes e todos em uníssono gritavamos Fashion Revolutiooooonnn. Talvez uma forma de vibrar pela continuidade deste belo projeto.

 

* Projeto apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa