Economia da Paixão: Qual é o seu propósito no mundo da moda?
Economia da Paixão
Qual é o seu propósito no mundo da moda?
Por Paula Costa
A indústria da moda é uma das mais expressivas do mundo, sendo desde sempre responsável por muitos dos movimentos de inovação e hoje, mais do que nunca, esbarrando em temas em voga como digitalização e sustentabilidade ambiental e sociocultural. A previsão é que o setor atinja o valor de 1,7 trilhão de dólares em 2022 (Statista), impactando consideravelmente o Brasil, onde temos a maior cadeia têxtil do Ocidente: abrangendo desde a produção de matéria-prima, passando por confecção, até apresentação de produtos finais em desfiles e no varejo.
Por trás dos grandes números, além de consumidores, estão milhares de profissionais das mais diversas áreas. Somente no Brasil, segundo o IEMI, até 2021 a moda registrou 1,36 milhões de empregos diretos e 8 milhões indiretos – e olha só: a maioria desta mão de obra é feminina! Também no nosso país, um levantamento de 2019 da Folha de S. Paulo identificou 50 faculdades espalhadas em 11 estados. E é exatamente neste ponto que começo
a aterrissar.
Por que trabalhar com moda?
Muitas pessoas crescem com o sonho de trabalhar com moda e este fato só é favorecido a medida em que evoluem o mercado de influenciadores, com muitos ancorados a esta indústria, e o universo do empreendedorismo, que motiva a aspiração de muitos a assinarem a própria marca. A armadilha aqui está nos estereótipos deste setor que lida muito com o campo da imagem.
Para muitos, o sonho da moda está diretamente relacionado a uma projeção glamourizada do sucesso, que depende da admiração do outro.
O filosofo holandês Jan-Willem van der Rijt dizia que “o apetite por aplausos, está entre os traços mais rasos do caráter humano”. É uma colocação bastante dura, até porque conquistar admiração pelas nossas realizações tem grande valor, mas também carrega o perigo de despertar a vaidade no sentido mais puro desta palavra, que diz sobre “vazio”.
Caminhar no vazio para sustentar a admiração, que vem do outro, pode significar uma desconexão com a própria verdade e distorção da realidade, e o resultado desta sede pela autopromoção, não é nada positivo.
Foi exatamente isso que um estudo realizado em 2021 com estudantes de administração de Cingapura identificou, com a afirmação “serei admirado por muitas pessoas” sendo associada a “ansiedade” e negativamente atrelada a “autorrealização”.
Estereótipos estão bem fora de moda!
De forma alguma seguir um sonho nos leva ao insucesso, muito pelo contrário, desde que esteja associado ao protagonismo pessoal e não ao espelhamento do outro.
Este protagonismo diz sobre resgatar o autoamor, reconhecer a própria história, honrar origem, habilidades e desafios que são, na verdade, a nossa maior fonte de força e direcionamento para uma jornada de propósito, onde desvendamos o significado de quem somos e do que fazemos. Neste lugar, nos conectamos com a nossa criatividade, liberdade e expressão e abrimos as portas para a abundância dos resultados das nossas realizações, conforme conquistamos espaços de pertencimento.
O processo de ultrapassar os estereótipos e alcançar o protagonismo, se completa quando ganhamos a consciência do papel que cumprimos nas necessidades do ecossistema e assim pertencemos, servimos e evoluímos junto com ele.
Este movimento de protagonismo e pertencimento, através do qual enxergamos quem somos e quais são os nossos papeis e potencial de impactar dores latentes em nossos ecossistemas, é a Economia da Paixão, que tem o potencial de colocar de pé uma nova e mais sustentável estrutura social, econômica, política e ambiental.
Economia da Paixão e Moda
Em um setor de grandes números como o da moda, existem grandes missões. Cada profissional que atua na cadeia, direta ou indiretamente, tem a oportunidade de evoluir pessoalmente de forma síncrona com as contribuições que oferece. E aqui, podemos começar a pensar em inúmeras pessoas que atingiram esta consciência e se fazem exemplos da Economia da Paixão.
É o influenciador que representa e dá voz para um público até então estigmatizado no mercado da moda, os produtores e empreendedores que criam produtos alternativos e novos modelos de negócio para reduzir o impacto ambiental da indústria, criativos – como o icônico Virgil Abloh – que trazem para o palco suas origens, culturas e visões que movimentam inclusão, diversidade e inovação, ou ainda, entre tantos outros agentes, os profissionais que atuam em grandes marcas, carregando o potencial de abalar de forma necessária o status quo
do sistema.
Qual é o seu propósito no mundo da moda?
A busca pelo movimento da Economia da Paixão começa dentro de nós e pode ser despertada a partir de algumas reflexões:
- Quando chegar em seu último dia de vida, o que você quer ter deixado? Pense nas experiências que quer ter vivido, nas pessoas que quer ter convivido, nos ambientes que quer ter frequentado e como eles te inspiram a ser uma pessoa melhor para o mundo.
- Qual é a sua história? Entenda com respeito e intimidade sobre suas origens e realizações até aqui. A unicidade de cada um de nós cumpre com um papel dentro do todo.
- Quem são as pessoas que você admira? Foque em entender quais são as características desta pessoa que te atraem e como se conectam com as suas próprias características.
E, por fim, em contextos individuais e coletivos, todos os dias podemos buscar significado em nossa atuação recalculando rotas em torno dos questionamentos: onde estamos, onde queremos chegar e o que precisa ser feito para isso.
Vale sempre manter em mente que os vários papeis que exercemos como profissional, familiar, amigo, consumidor, entre outros, dependem do significado que geramos por quem somos e pelo nosso olhar interessado às necessidades dos contextos que habitamos. Em um bom resumo: o propósito está dentro de nós e ganha vida ao longo de jornadas de pertencimento!
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Paula Costa é comunicóloga formada em Publicidade e Gestão de Varejo pela graduação e MBA da ESPM, especializada em inteligência de mercado, pesquisa de comportamento e consumo e análise de tendências, co-autora do livro Economia da Paixão e professora de MBA pela ESPM. Baseada na Europa, realiza pesquisas de tendência e acompanha eventos de inovação no mundo todo, ministra talks, workshops e consultorias voltadas para cultura de inteligência estratégica e inovação e lidera a área de Marketing & People da empresa de inteligência e criação para o varejo Vimer Retail Experience.
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