Como ser revolucionário 365 dias do ano?
por Rafael Silvério*Quando me contaram qual o tema iremos trabalhar esse ano, fiquei reflexivo por alguns minutos. Como se procurasse em mim mesmo métodos de expulsar a ideia de fazer isso todos os dias. A primeira coisa que refleti, foi que eu estava cansado demais para ter que fazer isso. Esse lugar que rejeita qualquer tipo de ameaça a uma pseudo estabilidade que eu possa ter desenhado apenas para me reconfortar nos dias mais sombrios.
Entre a conversa com o time da comunicação e a data que escrevi o texto, falei com uma pessoa especial. Ela me disse que cada um tem a verdade que pode tolerar. Essa frase mexeu com minhas raízes. Então seria impossível que façamos alguma coisa pois estamos o tempo todo tentando proteger o que temos?
O que realmente nos pertence que não tenha sido concedido como empréstimo? A revolução chegaria como a música de Sam Cooke? Grandiosa e com trombetas, pera isso não seria o Apocalipse?
Essas pequenas revoluções diárias acontecem silenciosamente. Elas não são tão barulhentas como se podem se vender em livros de autoajuda. Ou nos contar os gurus sustentáveis em posts de carrossel de “5 dicas para”.
Isso transpassa principalmente pelo viés do consumo. Eis a moeda de troca que é válida e realmente pressiona o sistema a fazer uma atualização necessária. Em 2020 parece que a Terra entrou em um enorme Detox. Depois de tantos anos de abuso extrativista de um pensamento que asfixia a circularidade e estrangula novas abordagens.
Creio, e quero acreditar que o ano se aproxima com uma nova egrégora.
Para que essa revolução comece com nossos próprios reflexos no espelho! A falácia de que não há escolha e que estamos na Matrix, é exatamente a ideia que nada pode ser feito. Reproduzimos uma fábula colonizadora, dos quais esperamos a salvação pelo outro.
Vale lembrar que parece que há uma crescente expansão de pensamento que a colonização oprimiu, matou e extinguiu. Parte dos nossos antepassados que não temos como resgatar. E por soberania através da força fomos condicionados a acreditar que era o certo. Mesmo nossos sentidos gritando que havia algo de errado. Fomos entorpecidos por distrações frívolas que são marionetes feitas para distrairmos do real foco que precisa ser levado em consideração.
Somos capazes de reivindicar nossas escolhas de consumo.
Quando digo consumo isso se abrange a todos os tipos de produtos que consumimos. Música, lugares que frequentamos, alimentos que ingerimos, as roupas que vestimos, os filmes que vemos, as informações que acessamos, as coisas que expomos, e a quem expomos. Viver essas pequenas mudanças de hábitos, são as mais complicadas, ainda quando parece que estamos lutando contra a corrente. Ou somos um organismo invasor. No qual o sistema imunológico do sistema fica o tempo todo caçando a fim de exterminar.
É preciso arrumar a casa, limpar as frestas, parar de esconder a poeira para debaixo dos móveis. É hora de revelar que nossas vulnerabilidades são nosso sistema de força. E que podemos recriar novos exemplos já que os anteriores nos trouxeram até aqui. Reavaliar o que cabe ou não cabe dentro dos nossos próprios valores morais.
É, e se fosse fácil já teríamos mudado, ou isso faria que criássemos um método de postergar. Sabemos que parece que a ajuda chega em gotas de soro, é que há muito agrotóxicos. Principalmente na forma nociva que lidamos com nós mesmos e com nossos próprios corpos, mentes e pensamentos.
Quão revolucionário seria se fossemos donos das nossas próprias angústias?
Que por mais intensas que sejam e dolorosas, sejam melhores, que vivemos entorpecidos em busca de algum prazer hedonista e irresponsável (não foi assim que chegamos até aqui?) que nada está alinhado com um senso de comunidade.
Para esse ano que o Fashion Revolution propõe revoluções diárias. A melhor e maior começa sempre com o primeiro passo. Um novo jeito de consumir e lidar com todas as coisas ao seu redor, inclusive nós mesmos.
A sustentabilidade também precisa ser circular na forma interpessoal, psicológica e emocional
Aproveite 2021 para se curar mas também não fazer morada nas dores. Me diga: Qual pequeno passo você deu hoje para sermos melhores do que éramos antigamente? Não é uma receita de bolo, não tem resposta rápida e fácil. Não tem caminho certo ou errado, mas ele precisa ser construído.
*Designer Preto de Moda e Consultor de Branding. Formado pela Faculdade Santa Marcelina em Desenho de Moda (2013). Pós Graduação na UNIP em Negócios Internacionais e Comércio Exterior(2016). Designer participante da Casa de Criadores (2019) com sua marca @silveriobrand. Propõe pela moda uma maneira de reconhecer seus sentimentos, questionando a noção de belo. Através de volumes inventivos e silhuetas lúdicas por um olhar romântico. Trabalha como consultor de branding para marcas e negócios relacionados a criatividade. Leia outros textos de Rafael Silvério no Blog Fashion Revolution.Foto: Reprodução NASA – Primeira Mulher a Pisar na Lua