Educar Para Revolucionar: quando sustentabilidade e moda se encontram em sala de aula

By Fashion Revolution

4 years ago

Quando a educação encontra a moda, podemos colher boas doses de revolução e transformação positiva no mundo e nas pessoas. Com essa motivação, surgiu o Programa Educacional Jovens Revolucionários, uma parceria entre Fashion Revolution Brasil e British Council Brasil, que desenvolveu encontros de formação de professores e materiais educativos para sensibilizar e conscientizar estudantes, em diversos estados do país, sobre os impactos socioambientais da moda e dos nossos hábitos de consumo.

Workshop de criação

O objetivo é fomentar o raciocínio crítico e criativo de estudantes a partir da compreensão das relações existentes entre eles, as roupas que consomem e as dinâmicas, muitas vezes perversas, escondidas na indústria da moda. O Programa usa a moda como uma ferramenta de transformações positivas, despertando a curiosidade, o raciocínio crítico e encorajando educadores e alunos a agirem, tornando-se cidadãos mais engajados e conscientes no mundo. 

 Porque o Jovens Revolucionários é tão necessário?

Em um Brasil de injustiças, muitas pessoas tem o acesso à educação dificultado, ou até impedido. Estamos entre os dez países que mais concentra desigualdades entre alunos considerados ricos e pobres, onde 9,7% da população acima de 15 anos não sabe ler ou escrever (IPEA 2009) e, por conta do racismo estrutural e sexismo dominante, ainda existem grandes abismos na educação entre negros e brancos e homens e mulheres. Em paralelo, são muitos os impactos sociais e ambientais da moda pela via negativa, ocasionando poluição, sistemas de escravidão moderna, desperdício e consumismo.

Investir em uma educação revolucionária é um caminho de mudanças e possibilidade de criação de novas e mais justas histórias, que ao mesmo tempo transforma a indústria da moda e a utiliza como impulso. 

Trocar, criar, revolucionar: as etapas de desenvolvimento do Programa

O Programa Educacional Jovens Revolucionários foi dividido em 4 etapas: palestra com Ian Cook, workshop com especialistas e pesquisadores, treinamento de docentes e desenvolvimento e lançamento do Manual Educar para Revolucionar. Conheça as etapas neste vídeo.

Na primeira, Ian Cook, professor de Geografia Cultural na University of Exeter (Reino Unido), integrante do Fashion Revolution Global e criador da plataforma Follow The Things falou sobre “Como ser um revolucionário da moda?”, onde abordou temas como ativismo de mercadoria e falou sobre sua experiência na criação de materiais didáticos e sua aplicação em sala de aula, considerando o lema que guia os materiais do Fashion Revolution: “seja curioso, descubra, faça algo.”

Palestra “Como ser um revolucionário da moda?”

Na etapa seguinte, um workshop reuniu 20 professores, estudantes, designers e outros profissionais que compartilharam ideias, experiências e cocriaram o material que serviu como base para o desenho das 4 atividades do Manual. Após o encontro, nossa equipe educacional juntamente com Ian, organizou e sistematizou as idéias e sugestões coletadas para desenhar as 4 atividades finais. 

A etapa seguinte foi treinar educadores de diversas áreas e instituições do país,  com o objetivo de torná-los multiplicadores das atividades, explicando a metodologia do programa e discutindo estratégias para tratar sobre temas que envolvem a sustentabilidade na educação. Foram encontros presenciais em São Paulo e Salvador e um treinamento online durante a Semana Fashion Revolution. 

O Manual Educar Para Revolucionar foi lançado durante a Semana Fashion Revolution. O guia reúne 4 atividades educacionais, orientações de como utilizá-las e ainda referências de pesquisa e bibliografia.

Manual Educar Para Revolucionar: conheça as atividades

As atividades foram projetadas para engajar estudantes por meio de processos simples, divertidos, criativos e colaborativos, com duração média de 50 a 100 minutos, e podem ser aplicadas desde o Ensino Fundamental até Ensino Superior, também abertas à adaptações multidisciplinares para incluir matérias como matemática, geografia, história, biologia, etc. São elas: 

Microrrevoluções: propõe a reflexão sobre como nossas ações individuais e locais podem ser capazes de gerar grandes impactos coletivos, levando em conta que o despertar da consciência não é um ato isolado, mas parte de um movimento crescente e contagiante, e incentiva o(a) participante a identificar problemáticas e soluções que contemplam seu item de vestuário. Veja o exercício desta atividade feito pela estudante Fernanda Ferreira. 

Detetive: inicia uma conversa sobre a origem das coisas por meio de um processo de descobertas, como em uma história de detetive, que vai reunir todas as partes de uma peça de roupa para desvendar de onde elas vêm, do que, como e por quem são feitas. 

Se Minha Roupa Falasse: incentiva a imaginação e empatia para a criação de um ecossistema de pessoas que se conectam pelas roupas, entrelaçando linhas e histórias invisíveis, que vão se tornando aparentes por meio da oralidade, escrita criativa, colagens ou desenhos.

Jogo da Transparência: baseado nos resultados apresentados pelo Índice de Transparência da Moda Brasil do Fashion Revolution, estimulando os estudantes a refletir sobre os benefícios da transparência e questionarem sobre a prática na indústria da moda. 

Diversos educadores e estudantes foram impactados pelo Programa Jovens Revolucionários, e colheram bons frutos do material. Sarah Oliveira, estudante de Moda no IED SP, participou do workshop inicial e conta como considera a sala de aula esse lugar revolucionário: “é ali dentro que você discute, investiga, se questiona e questiona o outro. Então por ser esse lugar, onde a gente muda, é urgente que se fala de sustentabilidade dentro de uma sala de aula. Falar disso é dar ferramentas para este aluno de qualquer idade, quem quer que seja, olhar a vida, a sociedade, a política, o meio ambiente por um outro prisma, completamente diferente. E ter certeza que esse novo olhar vai pautar as decisões desse aluno.” 

A professora Kátia Lamarca, coordenadora do curso de Design de Moda do IED (Istituto Europeo di Design), participou do treinamento e conseguiu aplicar uma das atividades do toolkit em sua turma de graduação remotamente. Dana Cho, sua aluna, compartilhou suas impressões sobre a aula: “eu percebi o quanto eu não sabia sobre as minhas roupas, sobre as empresas e quais processos estão envolvidos para fabricar uma peça. Acho que com isso eu preciso ter mais consciência do que eu financio e procurar saber mais quem faz minhas roupas.”

Acesse o webinar de treinamento das atividades.

Precisamos continuar pautando educação 

Ao mesmo tempo em que essas atividades trazem conceitos sérios e críticos de nossos tempos à discussão, elas também permitem que estudantes aproveitem de momentos lúdicos e imaginativos e desenvolvam suas habilidades criativas e de análise crítica. “Sou professora do curso técnico do vestuário em escola pública e tenho muita dificuldade em abordar, entender e tornar a minha disciplina mais atrativa. Mas esse treinamento foi excelente e muito esclarecedor, amei as atividades”, compartilha a professora que passou pelo treinamento Andreia Rossi.

O Manual também está alinhado com as competências preconizadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para que a escola ou faculdade possa promover ainda mais uma educação voltada para a formação de seres humanos éticos, com competências e habilidades para “resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.”

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