Black Friday: é possível apoiar negócios de impacto positivo?
por Julia Codogno
Novembro chegou e a tão esperada Black Friday está à porta, repleta de ofertas imperdíveis e um senso de urgência sem igual. A data, originada no varejo dos Estados Unidos por volta dos anos 60, quando as pessoas saíam às ruas para as compras de Natal, ganhou o mundo como um impulsionador econômico, movimentando grandes redes do mercado. Hoje, a Black Friday é considerada o maior evento de consumo do planeta.
Atenção! A moda rápida segue em alta durante toda a estação.
Recentemente, a MField, agência especialista em marketing de influência, realizou uma pesquisa nacional com 2.300 participantes e revelou um crescimento de 32,2% na população que pretende realizar alguma compra durante as ações promocionais de 2023. Entre os itens mais procurados, a categoria moda e acessórios lidera, com quase 40% de intenção de compra. Número alarmante diante de outros estudos que apontam um consumo expressivo, associado a um tempo de uso cada vez menor e à rápida descartabilidade desses mesmos artigos.
De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, uma instituição focada em soluções para uma economia circular, estamos usando nossas roupas 36% menos vezes do que 15 anos atrás. Um relatório de 2021 compartilhado pela plataforma de segunda mão Thredup também indicou que cerca de 9 bilhões de peças podem estar ociosas ou nunca terem sido utilizadas, e aproximadamente 36 bilhões podem ser descartados a cada ano, somente nos Estados Unidos.
Na prática, estamos testemunhando um crescimento sem precedentes do modelo conhecido como ultra fast fashion. Somos expostos a uma produção em larga escala, com mais de 150 bilhões de peças confeccionadas a cada ano, acompanhadas de um repertório criativo limitado, uso excessivo de matérias-primas sintéticas, como o poliéster, baixa qualidade de costura e acabamento, mão de obra precarizada, comunicação pouco transparente e a popularização de grandes plataformas digitais, capazes de comercializar itens de todo o mundo. Fatores que, combinados, nos levam a um novo padrão de consumo, estimulado por descontos atrativos e constantemente impulsionado pela famosa “compra por impulso”.
Alerta de tendência, nem tudo é preto e branco.
Se, por um lado, temos um mercado pronto para aumentar suas vendas a todo custo, por outro, não podemos desconsiderar a importância desse período para aqueles que economizam e aguardam o ano todo por algo desejado. A pesquisa mencionada anteriormente revela que, mesmo em situações financeiras fragilizadas, muitas pessoas ainda aproveitam essa ação como uma oportunidade para economizar. Além disso, podemos destacar as atividades desenvolvidas pelos pequenos negócios como uma forma de resistir à intensa atuação das grandes empresas do mercado. Diversas marcas têm aproveitado o momento para promover suas entregas, atraindo novos consumidores, oferecendo produtos de maior valor, estimulando a venda de itens únicos ou provenientes de estoques parados e gerando fluxo de caixa para futuros investimentos.
Um exemplo desse movimento é a Green Friday, uma das ações mais populares realizada durante a última sexta-feira de novembro. A campanha funciona como uma espécie de alternativa “mais responsável” onde, durante toda a promoção, são divulgadas atividades mais propositivas atreladas à compra de algum produto ou serviço. Algumas delas são: a compensação de carbono, a compensação de resíduos e a arrecadação financeira para organizações com atuações sociais, animais e ambientais. Além disso, a Green Friday também fortalece a pauta do consumo consciente, provocando reflexão a respeito daquilo que é realmente necessário e válido de ser adquirido.
A comunicação como ponte para a sustentabilidade.
Durante todo o ano, há inúmeras denúncias sobre publicidades enganosas ou informações inconsistentes. Não é durante uma data tão relevante como essa que seria diferente. Por isso, para que nossa participação seja mais proveitosa e responsável, destacamos alguns fatores importantes, previstos até mesmo por lei, que podem ser identificados na divulgação de cada promoção:
– conheça mais sobre a marca, negócio ou plataforma: busque informações sobre origem, localização, histórico de atuação e possíveis ilegalidades, processos de produção, políticas de venda, troca e entrega, entre outras referências;
– leia a descrição completa de cada produto: preste atenção ao nome e categoria do item selecionado, às matérias-primas utilizadas em sua confecção (bem como o percentual de cada uma delas), a forma como foi produzido, as indicações sobre cuidados, manutenção e até mesmo se existe algum tipo de logística reversa após o final de sua vida útil;
– acompanhe os valores praticados antes, durante e depois do período da Black Friday: acesse plataformas de busca e verifique se há alguma fraude potencial quanto à manipulação dos preços de cada produto – aumento do preço real antes da Black Friday e aplicação falsa de descontos durante a promoção.
Ter acesso à informação completa e verdadeira é um direito do consumidor. Sempre que houver dúvidas ou dificuldades de contato direto com uma marca ou negócio, entre em contato com o Procon de sua cidade.
Lembre-se! Toda ação individual possibilita impacto coletivo.
Aproveite o período para:
– incentivar negócios nacionais, locais e liderados por mulheres ou pequenos empreendedores;
– apoiar práticas mais responsáveis e transparentes, como uso de materiais de menor impacto e produções mais justas e éticas;
– buscar, sempre que possível, consumir itens de segunda mão. Afinal, o produto mais sustentável ainda é aquele que já existe.
E claro, não se esqueça de fazer uma lista de tudo que você precisa ou deseja consumir. Isso pode tornar o momento de pesquisa, seleção e decisão mais prático e consciente.
Imagem: Mikhail Nilov para Pexels
Pesquisa e redação: Julia Codogno
Revisão: André Teixeira
Julia Codogno é comunicadora de moda e sustentabilidade. Desenvolve seu trabalho por meio de mentorias, palestras e conteúdos educativos. É criadora de um guia digital que reuniu mais de 200 marcas de impacto positivo, co-criadora da iniciativa Retecendo e colaboradora parceira da consultoria de moda sustentável Cora Design. Acompanhe em @juliacodogno, ou pelo seu Linkedin.