A moda em todos os lugares: Semana Fashion Revolution 2023 dá seu start em Paraisópolis
Abertura reuniu organizações, estilistas e comunidade para discutir diversidade e inclusão.A Semana Fashion Revolution 2023 começou oficialmente no último dia 22, em Paraisópolis, São Paulo. Construido em parceria com as organizações IBModa (Instituto Brasileiro de Moda), G10 Favelas e Costurando Sonhos, o evento deu o tom para a uma das chamadas da Campanha: o respeito e valoriação da diversidade e heranças culturais na moda. A Semana Fashion Revolution 2023 acontece de 22 a 29 de abril, em todo o país, com mais de 600 ações gratuitas, no formato presencial e online.
Na abertura, Fernanda Simon, diretora-executiva do Fashion Revolution Brasil, destacou que a Campanha acontece simultaneamente em mais de 100 países e que é organizada voluntariamente por rede de representantes, embaixadores e parceiros. Além disso, ela também ressaltou a importância da participação de todos, perguntando nas redes e nos eventos “Quem fez minhas roupas?”. “Nós existimos para que a moda esteja mais alinhada com a realidade do planeta, que ela faça bem para todas as pessoas que fazem parte de todas as nossas roupas”, afirmou.
Para Gilson Rodrigues, presidente da G10 Favelas, a ideia do evento é de quebra de paradigmas. “É muito interessante a gente poder trazer essa ideia, que podemos criar esse ambiente que precisa ser para todo mundo”, explica, “é realmente inovador, trazer estilistas de diversos ambientes, estilistas da comunidade para essa troca”. Espaço físico do programa Costurando Sonhos, o G10 Favelas fortalece a moda no coração da favela, acreditando que ela é para todos. “É o futuro, temos que mostrar que esse bloco econômico de favelas tem um pontencial de consumo. Quem não tá investindo na moda da favela tá perdendo dinheiro”, explicou.
As fundadoras do Costurando Sonhos, Nilde Santos e Suéli Feio, também estiveram presentes. Em seu discurso de abertura, Suéli destacou que as costureiras do projeto já trabalhavam com sustentabilidade – ao reformar e criar peças – e não sabiam que trabalhavam com uma questão financeira. “Podemos ser sustentável, a favela entende essa linguagem, ela é muito potente”, destacou.
Exposição Moda de Cria
O evento também contou com a exposição “Moda de Cria”, de designers, empreendedores, stylists e estilistas das periferias. A curadoria foi de Daniela Ruano, representante do Fashion Revolution São Paulo. Professora e pesquisadora de moda autoral, Daniela afirmou estar sempre atenta aos movimentos periféricos e que, diferente do que muitos pensam, as pessoas da periferia não estão atrás apenas do movimento ostentação. “Tem muita gente que quer romper esse sistema e isso não é novo, sabe? A gente tem vários movimentos de subcultura, um deles, que nos inspiramos até hoje, é o punk”, relembrou.
Para Daniela, o momento agora é de uma geração que aprendeu com os país, por necessidade ou por interesse, o fazer manual, mas agora quer ir além. “Eles querem trazer um novo estilo, que não é só ficar naquela coisa de costurar”, relatou, “eu tenho visto essa geração com uma potência criativa muito forte e eles estãocom ferramentas para crescerem”.
Vitória Rodrigues é um exemplo deste momento. Trabalhando com styling e direção criativa, a estilista de 20 anos estava expondo pela primeira vez no evento. A peça da vez foi um conjunto costruido com retalhos de calças jeans antigas. “Eu ia sair a noite e estava sem roupa e decidi que faria uma roupa nova então com essa calças que eu já não usava”, contou. Vitória começou a costurar quando crinaça, ensinada pela mãe, primeiro fazendo roupas para bonecas, depois para si: “tinha muito aquilo de eu não ter a roupa que eu queria, então eu via na internet e customizava”.
Outra participante da exposição Moda de Cria foi Karen Bradoles, fundadora da Passarela Alternativa, uma organização social que atua em justiça restaurativa de mulheres que saíram do sistema prisional. As duas peças expostas fazem parte da coleção Energia, parceria com a empresa Enel. “Foi tudo feito com a mão de obras das mulheres egressas, fizemos duas propostas de look de upcycling com uniformes que os técnicos usam, aqueles macacões antigos que seriam descartados”, explicou,
Palestrante de uma das mesas, Tenka Dara, Fundadora do Baobá Brasil, afirmou que a abertura da Semana Fashion Revolution 2023 tinha que ser em Paraisópolis e, cada vez mais, tem que ser nas bordas. “A gente tem que ir para as bordas não porque temos que levar alguma coisa de importante para elas, mas porque temos que aprender com a periferia”, afirmou, “nas comunidades tem gente criando, produzindo e pensando mundos, futuros, com muita coagem e com muita capacidade. Com uma originalidade que está faltando na moda central. Então, eu acho que o novo é aqui, o futuro está na periferia”.
Para ela, o encontro com o Fashion Revolution, há 5 anos, representou um fortalecimento: “eu fiquei muito feliz, porque falei ‘tem mais gente pensando a mesma coisa que eu’, e deixei de me sentir tão sozinha. Entender que tem pessoas pensando moda como um veículo de transformação social e que elas não são poucas, que estão organizadas, isso fortalece muito o que eu faço”.