A falta de mulheres eleitas no norte brasileiro
Por Juliana Maquiné
Nas últimas eleições, muito tem se falado na presença de mulheres na disputa para cargos municipais e estaduais no país. Mas nas apurações de votos, fica claro a disparidade entre candidatos do sexo feminino e masculino. No Amazonas por exemplo, nenhuma mulher foi eleita para o cargo de deputada federal, muito menos para o senado.
De acordo com a Justiça Eleitoral, as mulheres formam maioria da população apta a votar em todo o estado, sendo 51% do total. Em 2018, 264 mulheres disputaram as eleições no Amazonas e em 2022 esse número cai para 217, representando apenas 34% das candidaturas registradas.
O estado nunca elegeu uma mulher aos cargos de governo estadual e vice, e no Senado, somente uma foi eleita. Para a Assembleia Legislativa do Amazonas, eram 430 candidatos concorrendo a 24 cargos, sendo 140 mulheres disputando e apenas quatro foram eleitas.
Fica claro que o discurso de ódio e patriarcado ainda resiste e ajuda na decisão eleitoral. Esse discurso, endossado pelo atual presidente, ajuda a construir esse cenário com poucas mulheres eleitas, é o que explica a enfermeira a ativista indígena, Vanda Witoto, que disputou pela primeira vez a um cargo político. “Essas estruturas foram criadas por homens, para homens e toda sua constituição se dá na perspectiva masculina. Aqui no Amazonas, os cargos majoritários são ocupados por homens.”, explica Witoto.
A falta de investimentos em campanha eleitorais de mulher, também é um dos entraves que as mulheres candidatas enfrentam. A obrigação dos partidos em distribuir 30% dos investimentos em campanhas femininas, não reflete no resultado. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), candidatos gastaram 88% a mais que mulheres em suas campanhas eleitorais. Isso reflete no resultado das eleições.
No norte do Brasil, diante da vulnerabilidade social e pobreza que muitos ribeirinhos e povos indígenas vivem, o período eleitoral se tona um momento de possibilidade de conseguir algo. “Ninguém faz nada por esse povo que fica abandonado, não existe política pública. E muitos se condicionam às situações políticas que são oferecidos como a venda dos votos”, enfatiza Vanda.
Em todo o Brasil, as mulheres são maioria do eleitorado brasileiro, com 52,65%. Porém, esse valor não corresponde à representatividade feminina no Congresso Nacional. Apesar do aumento em relação a 2018, as mulheres ainda estão longe de ocupar o mesmo número de cadeiras que os homens. Em 2022, foram eleitas 86 deputadas federais, das 513 vagas em disputa. No Senado, foram eleitas quatro senadoras de um total de 27 cadeiras em disputa.
Esse pequeno aumento talvez demonstre que a voz das mulheres está ganhando força mas também representa um longo caminho a ser percorrido. Além de conciliar a vida pessoal, trabalho, maternidade, as mulheres têm que enfrentar uma sociedade que vê em um homem branco mais possibilidades de se ter algo em troca, e os elegem esquecendo da necessidade do coletivo. Por exemplo, quantos candidatos estão indo para o segundo turno e tem a pauta FEMININA em discussão? Quantos candidatos discutem medidas de proteção contra violência de gênero? Quantos candidatos discutem representatividade feminina nos órgãos públicos e criação de políticas públicas? Muitas perguntas ainda acontecem quando o assunto é política. O nosso dever está aí para o próximo domingo dia 30 de outubro.
Cotas
A lei de cotas teria estimulado ainda o fenômeno das “candidaturas fantasmas” – criadas pelos partidos para atingir a meta, mas sem investimento real de campanha. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 16.131 candidatos não receberam nenhum voto nas eleições de 2016. Desse total, 90% eram do sexo feminino. Os números chamaram atenção do Ministério Público Eleitoral, que sugeriu aos promotores eleitorais que averiguassem os casos de candidatas sem voto. O protocolo envolve a investigação da existência de gastos de campanha, a pesquisa em fontes como Google e redes sociais por propaganda das candidatas e, caso a infração seja comprovada, a denúncia por falsidade ideológica eleitoral.