Consumo como um ato moral

By Fashion Revolution

7 years ago

A tensão entre a indústria da moda e as condições dos trabalhadores tem origem no início da Revolução Industrial, ainda no fim do século XVIII, e é até hoje uma realidade. A história nos mostra que as condições de trabalho nas tecelagens nos séculos XVIII e XIX eram muito ruins. Os trabalhadores tinham pouquíssimos direitos; o trabalho infantil era algo corriqueiro e o descanso remunerado, um luxo.

Os movimentos dos trabalhadores no fim do século XIX e início do século XX, trouxeram grandes progressos nessa área, especialmente no ocidente, o que foi um grande legado do século passado. Com a globalização, no entanto, houve um movimento de transferência da produção dos países desenvolvidos para aqueles de industrialização tardia. Estes últimos ofereciam um custo expressivamente mais barato em função de taxa de câmbio, custo da mão-de-obra e, muitas vezes, em virtude das péssimas condições de trabalho, de jornadas extenuantes e mesmo do trabalho infantil. Surgiram na Europa, no Brasil inclusive, ateliers irregulares que utilizavam mão-de-obra de imigrantes ilegais, alguns em condições análogas à de escravos. A mesma indústria que criou uma fábrica de consumidores está criando, paradoxalmente, trabalho degradante e acesso democrático aos produtos.

Ao que parece, o modelo do fast fashion aumentou a pressão pela utilização desweatshops (Locais de trabalho degradantes pejorativamente apelidados de “lojas do suor”). A necessidade de preços cada vez menores tem um custo. É em relação a este custo que a opinião pública está começando a se voltar. Denúncias de condições degradantes em sweatshops não são propriamente uma novidade, mas elas estão cada vez mais presentes na mídia. O exemplo mais recente é o da séria da TV norueguesa “SweatShop: Dead Cheap Fashion”, que mostra blogueiras de moda levadas para conhecer as reais condições de trabalho nestes ambientes (Veja o vídeo disponível em http://www.aftenposten.no/webtv/serier-og-programmer/sweatshopenglish/).

O conhecimento deste quadro causa um impacto muito grande na opinião do público consumidor. Intelectuais, autoridades religiosas e políticos comprometidos com melhores condições de trabalho têm feito declarações a respeito do assunto. “Junto com a responsabilidade social das empresas, há também a responsabilidade social dos consumidores.” Disse o atual Papa.

Aos poucos, está se formatando a ideia de que o consumo é um ato moral, de que há uma moralidade no ato de consumir. Espera-se, portanto, uma pressão cada vez maior para que as marcas de moda cuidem melhor das condições em que são produzidas suas mercadorias.

 

Texto enviado por Fernanda Daudt da Radar Consultoria para Fashion Revolution