Brasileira cria projeto de artesanato que empodera mulheres na India

By Fashion Revolution

7 years ago

Conheça a história da paulista Carla Maria Souza e sua iniciativa Project Três, que capacita mulheres em situação de vulnerabilidade na Índia, para a produção de acessórios artesanais. Muita inspiração com esse exemplo de amor, liderança e força de vontade!

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Eu era estilista no Brasil, trabalhei por 6 anos no mercado de moda e tinha um emprego em uma marca bem estabelecida de São Paulo. Em 2014 eu comecei a pensar que gostaria de fazer algo além de tudo isso. Me mudei para a Califórnia para aprender a falar inglês e pensar sobre o que eu queria fazer, e após um ano lá, cheguei à ideia de criar um projeto social onde fossem desenvolvidos acessórios a partir de materiais reutilizados, feitos por mulheres em situação vulnerável.

Colares artesanais desenvolvidos no projeto de Carla. Foto: Divulgação Project Três

Decidi começar na Índia. Eu nunca tinha ido pra lá, não tinha amigos, nada. Mas foi justamente toda essa falta óbvia de conexão que me fez ir pra lá: se eu começasse um projeto assim no Brasil, todo mundo ia “mostrar o caminho” que eu deveria seguir, e eu queria começar da forma mais empática possível, sendo também uma pessoa vulnerável, e em um lugar onde ninguém saberia quem eu era, onde trabalhei, o que estudei.

Eu cheguei na Índia em novembro de 2015, e comecei a perguntar nas ruas sobre mulheres precisando de ajuda. Eu soube de uma mulher, o nome dela é Farida, e me disseram que ela morava em um barraco em uma selva, com quatro filhos que ela criava sozinha.

A Farida foi a primeira mulher no projeto. Eu me mudei pra casa dela por algumas semanas, pra identificar quais eram os maiores desafios que ela tinha, e não sabia como me explicar…ela trabalhava 18 horas por dia, tinha muitos empréstimos no banco, não conseguia arcar com três refeições ao dia para sua família na temporada de chuva, além de morar em uma casa sem saneamento básico, água encanada ou banheiro.

Mamta durante produção dos colares artesanais. Foto: Divulgação Project Três

A Farida hoje em dia é a diretora do Project Três na Índia. Em quase um ano no projeto, nós conseguimos tirá-la do emprego que ela tinha (ela é babá profissional, e trabalhava como babá em um cassino à noite cuidando dos filhos das pessoas que iam jogar), ajudamos ela a iniciar o próprio negócio como babá profissional, conseguimos uma pessoa para cobrir os custos escolares dos filhos dela (isso em 2016, para 2017 ainda não conseguimos cobrir esses custos), construímos um banheiro na casa dela, e a cada passo de uma vez, estamos mudando a realidade dela.

Em junho do ano passado, eu fui convidada por uma ONG de Nova Déli chamada Make Love Not Scars para desenvolver uma parceria com eles, ensinando sobreviventes de ataques de ácido a fazer colares de materiais reciclados. Eu morei três meses em Nova Déli, com as sobreviventes, e hoje temos três artesãs que foram vítimas de ataques de ácido e não conseguiam encontrar novas oportunidades de emprego. Os nomes delas são Mamta, Basanti e Sapna.

Lalita e sua filha Veda em fevereiro de 2017. Foto: Divulgação Project Três

Temos também a Lalita, que tem 23 anos e foi abandonada pelo marido com os dois filhos (Veda de 3 anos e Chetan de 9 meses). A Lalita chegou no projeto em dezembro de 2016, com uma infecção super grave, vivendo em um barraco, com acesso apenas à uma refeição diária, e com um dos filhos sofrendo de desnutrição. Hoje em dia ela é a responsável pelo setor de bordados e acabamentos do projeto, mora em uma casa alugada, está saudável e consegue se alimentar devidamente, assim como seus dois filhos.

Em fevereiro de 2017 sua mãe também ingressou no projeto e deixou o trabalho como catadora de lixo, no qual ela trabalhava 12 horas por dia no sol, e recebia em torno de 15 reais pela sua jornada.

Artesãs do grupo durante a produção das peças. Foto: Divulgação Project Três

Tivemos por último, um grupo de 12 mulheres ingressando no projeto: Rupa, Muskan, Sharmila, Gangu, Manojdevi, Laxmi, Priti, Snea, Pramila, Rajesri, Bhageshwari e Pryatama. Elas vieram nos procurar pois precisavam de oportunidades de trabalho mas não encontravam essas possibilidades, além da maioria dos maridos não as deixarem trabalhar fora de casa.

Elas possuem habilidades de corte e costura, crochê, bordado manual, dentre outras técnicas, e quando ingressaram no projeto, iniciamos o desenvolvimento de novos produtos, como bolsas, mochilas, capas de almofadas e kimonos, além de atendermos marcas que gostariam de produzir artigos de moda com a estética indiana, que não fossem feitos com mão de obra escrava (problema muito comum na Índia).

Da esquerda para a direita: Sapna, Mamta, Farida, Basanti e Carla. Foto: Divulgação Project Três

Hoje temos no total 20 mulheres sendo beneficiadas pelo projeto, e nosso objetivo é sermos cada vez mais sustentáveis, por meio da venda dos nossos produtos e do fornecimento de produtos/serviços a marcas com preocupação social e ambiental.

Uma novidade é que fui recentemente convidada a desenvolver o Project Três no Quênia, a partir de outubro, com 15 mães de crianças assistidas pelo projeto Hai África, e que vivem em extrema pobreza e sem condições de trabalho fixo. Em alguns meses teremos material para a publicação de um novo artigo!

Visite aqui o site e e-commerce do Project Três, veja um vídeo sobre o projeto e doe.

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